Até a próxima quarta-feira, 10 de outubro, o auditório Dois Candangos e o Sebinho Café vão sediar discussões sobre a atuação dos estudantes na construção histórica da Universidade de Brasília. O seminário “História e memória do movimento estudantil na UnB: pelo futuro da universidade”, iniciado nesta segunda-feira e promovido pela Associação dos Alunos de Pós-Graduação (APG), integra a programação dos 50 anos da UnB.
O coordenador geral do seminário e professor do Instituto de Relações Internacionais, Roberto Goulart Menezes, diz que o principal objetivo dos debates é recuperar a concepção da UnB a partir dos alunos. “A Universidade não estava pronta quando os estudantes chegaram. Ao contrário, eles participaram ativamente da construção. Temos fontes vivas para relatar como eram as relações de poder na UnB. Naquele tempo, professores e alunos eram mais próximos, todos estavam comprometidos na construção de uma universidade diferenciada”, ressalta.
O seminário foi idealizado também para contribuir com os trabalhos da Comissão Memória e Verdade Anísio Teixeira, criada pela UnB em agosto para esclarecer fatos ocorridos durante o regime militar, entre eles os desaparecimentos dos alunos do campus Honestino Guimarães, Ieda Santos Delgado e Paulo de Tarso Celestino.
Os debates foram planejados para abordar cinco grandes momentos da história da UnB, segundo Fábio Borges da Silva, presidente da APG: a criação da UnB em 1962; o período entre o golpe militar de 1964 e a edição do Ato Institucional 5, em 1968; a greve de 1977 e 1978; a redemocratização de 1985 e o momento contemporâneo. “Escolhemos discutir, entre os temas atuais, a política de cotas raciais, a ocupação de 2008 da Reitoria, a reforma da Casa do Estudante e o tema da homocultura e questões de gênero”, afirma Fábio. “Em todas essas áreas, o movimento estudantil contemporâneo contribuiu bastante”, acrescenta.
Um dos debates que integram o seminário trata da preservação da memória na UnB. “No seminário, vamos defender um centro de documentação para centralizar os acervos históricos da UnB, que hoje estão muito dispersos”, conta Fábio. Ele avalia que um acervo histórico centralizado, aberto a pesquisadores do país e do exterior, ajudaria no processo de internacionalização da Universidade e contribuiria para a elevação da nota de cursos da UnB.
Para Fábio, o seminário visa uma discussão sobre o projeto original da universidade. “Há um hiato na história da UnB, entre 1964 e 1985, que ainda não foi completamente resolvido. Em 1964 interrompeu-se o projeto original da universidade, que havia atraído um fluxo enorme de brasileiros interessados em uma proposta mais singular, com uma concepção popular de universidade”, diz. Segundo ele, a redemocratização de 1985, com o fim do regime militar, não implicou a retomada desse projeto original da UnB.
“Mantemos até hoje aspectos residuais de uma estrutura universitária que foi criada pelos militares. A UnB caminhou na direção da homogeneidade que caracteriza as universidades atualmente. Acreditamos que o conceito original da UnB, voltado para a cultura popular, para a educação no campo, permanece como uma fagulha no coração de muitas pessoas. É necessário desmontar isso para que a universidade seja o que quiser ser nesse momento”, conclui Fábio.
Veja aqui a programação completa do seminário.